Todos nós em qualquer momento precisamos de um momento para olhar para nada, para o vazio, preencher algo…um daqueles momentos em que nos apetece estar sós…falar com os nosso botões…se calhar não só!

Vem isto a propósito da necessidade que tive hoje de ter um momento vazio, confesso que não sei bem porque tem este título, ou designação…apeteceu-me, por ser sugestivo e corresponder a um estado…o meu vazio!

 Então pedi aos meus amigos que me perdoassem por hoje não os acompanhar no treino da corrida matinal no Parque, mas queria um encontro comigo…só comigo!

Quero aqui enunciar que não é nenhuma desconsideração pelos meus amigos, pelo contrário, no espaço da amizade cabe até o momento de querer-mos estar sós.

Comecei então o meu treino…ideias que me assolavam a cabeça em catadupa…mas nada se fixa…nada permanece, penso em tudo…o corpo vai no seu esforço contínuo como aliado a carregar tudo, até os pensamentos!

Mas este aparente vazio faz com que esteja a fazer uma limpeza ao meu cérebro, para ver se nalgum daqueles armários mais recônditos existe algo comprimido que precisa de se libertar…penso que é isto que os psicólogos fazem, possivelmente estava eu no meu momento de catarse…

Repentinamente veio-me algo á tona…pensei no meu pai…faria, se fosse vivo, 74 anos neste mês de Março. O meu pai faleceu com 51 anos de idade, ficou sem um terço da vida que lhe era devida…se tivesse cá ficado!

Eu perdi-o, até agora, por metade da minha vida…ou seja, vivi com um pai metade da minha vida… a outra metade, ou o resto, não sabe o que é ter pai.

Por vezes julgamo-nos imunes a este tipo de pensamentos…mas há sempre uma necessidade de expiação…quando dou por mim entendo que não estou só…o meu pai acompanha-me…falamos os dois, digo-lhe que ele gostaria de conhecer o meu filho mais novo…pois nasceu já após a morte dele…falo-lhe dos meus pequenos triunfos pessoais, aqueles que o orgulhariam…tento perceber se ele me diz algo sobre as angústias que por vezes tenho…a existência pai, como é… que me dizes, é tudo relativo…estás feliz…interrogo-o…ele sorri.

Tenho a certeza que não sendo o melhor filho do mundo, o meu pai sentir-se-ia orgulhoso de mim, os pais sentem-se quase sempre orgulhosos dos filhos…disse-me muitas vezes, tu não fazes porque não queres…o que queria eu pai, seria aquilo que tu querias?

Quando dei por mim o treino embora não fosse longo, tinha passado sem que desse por isso…no meu Mp4 ouvia-se o Peter Gabriel numa bela canção cujo título é “ Mercy Street, um poema de Anne Sexton´s”

No final da música o poema diz algo como isto:

“Misericórdia…procurando misericórdia

Eu estou com o pai, ele está no barco,

Escrevendo na água,

Escrevendo nas ondas…do mar!”

A mim fica-me o sentimento de que o meu pai partiu de madrugada…era cedo muito cedo!      

 Afinal o treino não foi vazio...fiquei pleno!

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